A eutanásia e a ortotanásia

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Seria lícito, num surto de empatia, que o espírita, ao ver um ente querido em sofrimento no seu leito de morte lhe assistisse com o abreviamento da vida e de seus sofrimentos ? Em nossos estudos da doutrina dos espíritos somos sempre lembrados de que nosso plano reencarnatório segue os desígnios de Deus e de seus mensageiros do bem. Se for colocando em prova de sofrimento ao leito de morte um espírito é , pois, porque deste sacrifício ele retirará proveito para sua evolução moral.

No evangelho segundo o espiritismo, no item 27 do capítulo V – Bem aventurados os aflitos – os espíritos dizem a Kardec:

27.Deve alguém pôr termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para
respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é conseqüência das vossas existências anteriores, são os juros da dívida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar. Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para atenuá-las, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande erro. É certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á porém,conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: “Não irás mais longe?” Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: “É a justiça de Deus, importa que siga o seu curso.” Dizei antes: “Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substituí-lo pela paz.”

Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa ideia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizer para se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la,conforme julgar conveniente. Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! Considerai-vos sempre como instrumento para fazê-la cessar. Resumindo: todos vós estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. – Bernardino, Espírito protetor. (Bordéus, 1863)

Nesta passagem os espíritos nos lembram da lei de ação e reação que nos rege as provações e as expiações de delitos passados. Nesta lei encontramos as razões e os motivos dos sofrimentos e padecimentos em leito de morte. Ignoramos que por ventura a reflexão forçosa tida durante o padecimento corporal pode trazer a tona o arrependimento e o entendimento de certas situações. O espírito ali preso sob os seus sofrimentos pode ter possibilidades de reflexão mais claras visto que a consciência vai ser implacável diante das causas que o levaram a ter um final de vida tão amargurado. Muitas vezes vemos inclusive pessoas que pedem a presença de algum desafeto ou familiar que não cultivava simpatia a fim de lhe pedir perdão pelas faltas.

Ainda sobre o momento oportuno de reflexão e de evolução proporcionados pelo leito de morte temos que entender que somente Deus em seus perfeitos desígnios que são Justos e bons saberá o porque da necessidade do enfermo passar por tais padecimentos. Mas isso levanta a questão : Seria lícito abreviar o sofrimento de um doente sem cura que está em estado terminal e mais nenhuma esperança a luz da medicina exista em sua sobrevivência ? ao que Kardec indaga os espíritos no item 28 do mesmo capítulo acima sitado:

Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado
é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?

Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para daí o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões? Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.

O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. – S. Luís. (Paris, 1860)

A Ortotanásia

A questão porém levanta outra Hipótese. como diz no texto nos é lícito auxiliar o enfermo minimizando-lhe as dores e padecimentos mas não lhe abreviando um minuto sequer a vida, deixando que passe pela dor reparadora mas com os cuidados e a assistência fraterna da medicina em lhe aliviar. Essa questão abre portas para a Ortotanásia – ou a morte sem sofrimento, bem assistida – onde a medicina poupa-lhe os sofrimentos máximos por diminuir-lhe as dores porém sem lhe diminuir o tempo de vida. Esta é à visão espírita, a bondade que podemos ter para com nossos entes queridos em leito de morte.

Verificamos, pois, a validade de nossos esforços para poupar o máximo possível a dor do moribundo sem que lhe deixemos de facultar os últimos suspiros reparadores de vida. entendemos o valor do padecimento a fim de ascender moralmente o espírito ao fim da vida. Sejamos pois confiantes na misericórdia divina perante seus sublimes desejos de evolução moral do ser humano, Muita paz!

4 comentários sobre “A eutanásia e a ortotanásia

  1. Peço a DEUS, pai de JESUS CRISTO, luzes para que eu possa caminhar com todas as criaturas, assim no caminho do BEM, pois, assim estamos sentindo digno de aprender VOSSO ensinamentos anunciados por JESUS CRISTO ,Vosso filho e nosso Senhor…A oração do Pai Nosso, são Luzes Verdadeiras que o PAI CELESTIAL a nós encaminha…

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  2. Corrijam-me em caso de erro, mas lembro que no filme sobre a vida de Chico Xavier em dado momento ele e sua família pedem aos ‘superiores’ que diminuam o sofrimento do irmão enfermo, levando-o.
    Uma ‘concordância’ entre as partes não tornaria o processo melhor para/entre os planos?

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    • Muito bem lembrado fernando. Sim o enfermo era se não me engano sobrinho e pelo tanto q ele tinha feito de bem na causa de chico os espíritos superiores resolvem aliviar o sofrimento pois ele deveria sofrer de cama por semanas mas para evitar o sofrimento devido ao tanto de coisa boa que ele fez os espíritos amigos com a permissão de deus auxiliaram no desprendimento do espírito dele. tudo devido ao merecimento. bem lembrado, isso enriquece nosso aprendizado!

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  3. Hj, graças a doutrina temos esclarecimentos que munda totalmente nossa maneira de pensar sobre muitos assuntos , para não ficarmos na ignorancia , e sabemos de muitos casos que ocorre todos os dias por falta de conhecimento , ah ! que seria se todods pudessem adquirir o conhecimento da DOUTRINA .

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