Mediunidade – afinidade, aproximação, aceitabilidade e incorporação.

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Kardec nos ensina como “a natureza das comunicações está sempre relacionada com a natureza do Espírito”, mas ressalta que:

“ao lado da aptidão do Espírito, existe a do médium, instrumento que é para ele mais ou menos cômodo, mais ou menos flexível, e no qual ele descobre qualidades particulares que não podemos apreciar” (L.M., 2ª parte, Cap. XVI, item 185).

E acrescenta:

“… apesar da igualdade de condições quanto à potência mediúnica, o Espírito dará preferência a um ou a outro, segundo o gênero de comunicações que deseja transmitir” (L.M., 2ª parte, cap. XVI, item 185).

No mesmo item, Kardec lembra que as aptidões do médium em sua vida atual nem sempre são determinantes na definição do conteúdo das mensagens que ele recebe. Assim, poetas podem não conseguir trazer mensagens mediúnicas em forma de poesia, enquanto que outros sem aptidão para conhecimentos científicos podem trazer comunicações sábias. De acordo com Kardec, ocorre o mesmo com o desenho, a música, etc.

Os fatores mais importantes no estabelecimento da ligação mediúnica são outros: os Espíritos “se comunicam dando preferência mais ou menos acentuada a este ou àquele médium, de acordo com as suas simpatias” (L.M., 2ª parte, Cap. XVI, item 185). As qualidades do médium são essenciais para que haja afinidade entre o médium e espírito comunicante: “é a intenção, o pensamento íntimo, o sentimento mais ou menos louvável de quem interroga o Espírito” (L.M., 2ª parte, Gap. XVI, item 186).

A afinidade é obtida através da sintonia do Espírito com os pensamentos, comportamentos, emoções e palavras emitidos pelo médium costumeiramente. Daí, inferimos a importância do conhecimento evangélico-doutrinário do médium, da sua sinceridade de propósitos, dos tipos de pensamentos que emite no dia-a-dia, do seu interesse pelo desenvolvimento das virtudes e pela eliminação dos defeitos e vícios. Como vimos, nossos pensamentos e emoções impregnam os fluidos, e são os fluidos que nós emitimos que atraem outros fluidos semelhantes, permitindo um maior ou menor equilíbrio do médium.

A semelhança de pensamentos e propósitos (ou intenções) é muito importante para o médium captar os fluidos da espiritualidade. Como os Espíritos se comunicam por pensamentos e não por palavras, são ideias ou imagens que o Espírito emite em ligação com o médium e este ultimo capta conforme sua capacidade. Pode haver também maior afinidade entre Espíritos em que haja envolvimento emocional (outras existências, amizade, simpatia, etc.) esse tipo de envolvimento não é essencial para que ocorra a ligação mental.

Sendo assim, o médium iniciante deve buscar estabelecer comunicações com um Espírito determinado, pois “…ocorre, frequentemente, que não seja este que as relações fluídicas se estabeleçam com mais facilidade, por maior simpatia que lhe devote” (L.M., Cap. XVII, item 203 – grifo nosso). Outras questões também influenciam na ligação mediúnica. Entre elas, pode-se citar as condições de aproximação da entidade comunicante. Somente haverá comunicação verdadeiramente mediúnica se houver um Espírito disposto a transmiti-la, e para que os bons Espíritos se manifestem em um trabalho é necessário que o ambiente seja devidamente preparado.

Kardec nos ensina que as reuniões sociais comuns são diferentes das reuniões mediúnicas, e que estas, “para se obterem resultados desejáveis requerem condições especiais” (L.M., 2ª parte, Cap. XXIX, item 324). Nisso influirá também o caráter do objetivo da reunião: reuniões para assuntos frívolos atrairão espíritos frívolos; reuniões com objetivos sérios atrairão Espíritos sérios.

O padrão vibratório também é importante entre os fatores que auxiliam a aproximação. O padrão vibratório é consequência dos tipos de fluidos ou pensamentos emitidos no momento do trabalho, e que vão direcionar a sintonia do médium com o Espírito comunicante. Para melhorar o seu padrão vibratório, o médium deverá resguardar-se de pensamentos inferiores pelo menos no dia do trabalho, preparar-se com preces e leituras evangélicas, evitar brigas e desentendimentos, enfim, manter uma conduta irrepreensível. Daí a importância do “Orai e vigiai” e da “Reforma Intima” como fatores de equilíbrio.

Portanto, o médium desequilibrado dificulta a comunicação com Espíritos, pois com o perispírito desequilibrado, também não é possível estabelecer uma ligação mediúnica plena com a espiritualidade. Podemos também acrescentar a disposição do médium em servir-se de intermediário, sua aceitabilidade. O medo ou a insegurança do médium podem dificultar o intercâmbio mediúnico. O médium deve confiar que a preparação do ambiente e os bons propósitos da reunião atrairão espíritos sérios e bem-intencionados, e deve deixar-se envolver pelos fluidos da entidade comunicante.

Para servir de instrumento fiel da espiritualidade, o médium deve praticar a humildade, “calando-se” mentalmente para que o Espírito possa manifestar-se através dele. Contudo, o médium não deve se entregar ao primeiro Espírito que vier, apena; estabelecer um contato mediúnico: “A dificuldade encontrada da pela maioria dos médiuns iniciantes é a de ter que com Espíritos inferiores'” (L.M., 2ª parte, Cap. XVII, 211 – grifo nosso).

Ainda sobre a passividade, Edgard Armond destaca o papel do médium para a aceitação da ligação perispiritual; ‘‘Natural, pois, e mesmo necessário,, que haja passividade no ato funcional mediúnico e atividade e consciência plenas fora desse ato” (Mediunidade, segunda parte; Cap. 22: “O Desenvolvimento” – grifo nosso). De acordo com o autor, a passividade desejável não é a nulidade de desejos e decisões, não representa a sujeição do médium ao plano espiritual. O médium não é escravo da espiritualidade, mas deve controlar e disciplinar suas emoções para entregar-se cientemente e com segurança quando for o caso. O próprio Armond adverte quanto ao perigo da extrema passividade:

“A passividade cega entrega os médiuns à influência de forças e entidades de todas as classes e esferas, indiscriminadamente, e isso é altamente nocivo” (Mediunidade, 2ª parte – Cap. 22: “O Desenvolvimento”).

Todos esses fatores são predisposições necessárias à incorporação. A partir destes pré-requisitos, o circuito mediúnico poderá se completar e o médium poderá transmitir a mensagem do plano espiritual como um verdadeiro intermediário. Podemos concluir lembrando-nos novamente de Kardec, que afirma:

“Para que uma comunicação seja boa, é necessário que provenha de um Espírito bom. Para que esse Espírito bom possa transmiti-la, é necessário que o objetivo lhe convenha” (L.M. Cap. XVI, item 186)

BIBLIOGRAFIA:
O Livro dos Médiuns – 2ª parte, Cap. XVI ítem 185 – Allan Kardec
O Livro dos Médiuns – 2ª parte, Cap. XVI item 186 – Allan Kardec
O Livro dos Médiuns – 2ª parte, Cap. XVII intesn 203-211 – Allan Kardec
O Livro dos Médiuns – 2ª parte, Cap. XXIX item 324 – Allan Kardec

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